(artigo de Carlos Heuser)
Com o apaziguamento da Província do Rio Grande que seguiu à Revolução Farroupilha, a colonização que havia iniciado em 1824 foi retomada. A Colônia de Santa Cruz fez parte deste processo, tendo recebido os primeiros colonizadores em 1849.
Mapas da colônia
Para a Colônia de Santa Cruz, o site contém vários mapas descritos nas páginas Colônia de Santa Cruz e arredores, Sede da Colônia e Venâncio Aires.
Primeiras picadas de Santa Cruz
Não é fácil determinar a cronologia exata de criação das várias picadas da Colônia de Santa Cruz, até porque os diferentes autores (vide bibliografia abaixo) relatam datas diferentes. Mesmo assim, parece bem provável que a ordem de criação das picadas da Colônia de Santa Cruz seja a seguinte:
A primeira picada aberta quando da criação da colônia foi a Picada de Santa Cruz. Alguns autores afirmam que esta picada corresponde ao início de uma estrada que havia sido aberta para ligar Rio Pardo com a região de Soledade. Por ter sido a primeira picada, mais tarde também era denominada Picada Velha (“Alte Pikade“). Em mapas mais recentes passou a receber a denominação de Linha Santa Cruz.
Apesar de tecnicamente não fazer parte de Santa Cruz, cabe mencionar a Colônia de Rincão del Rey, colônia particular criada em 1850 em Rio Pardo. Esta colônia recebeu basicamente migrantes que vinham das colônias já estabelecidas ao redor de São Leopoldo. É interessante mencioná-la pois seus habitantes usavam as igrejas de Santa Cruz para seus assentos de batismo, casamento e óbito.
Ao redor de 1851-1852, com a Picada Santa Cruz já razoavelmente ocupada, o Diretor da Colônia decidiu abrir a Picada Rio Pardinho, que também era chamada de Picada Nova (“Neue Pikade“) para distingui-la da picada “velha”.
Para estabelecer uma ligação entre as picadas Velha e Nova, na mesma época, foi criado o Travessão (“Querpikade”) ou Picada Travessa.
Ao redor de 1853-1854 (não identifiquei uma data precisa), começou a ocupação da Picada de Dona Josefa. Entre esta picada e a Picada de Rio Pardinho, foi criado o Travessão de Dona Josefa (no mapa de 1859, identificado por Travessão Rio Pardinho) — não confundir com a Picada Travessa do item precedente.
A sede da Colônia foi demarcada e começou a ser ocupada a partir de 1855. Esta povoação teve várias denominações: Faxinal, pois se situava dentro do Faxinal ou Sesmaria de João de Faria Rosa, Povoação de São João, como aparece no mapa de 1859 de Buff, Freguesia de Santa Cruz, como aparece no mapa de 1870, e Villa de Santa Cruz, no mapa de 1881.
Ainda antes de 1859, foram criadas a Picada Andreas, a Villa Theresa (hoje sede do município de Vera Cruz), a Picada Bom Jesus e a Picada São João, pois todas são mencionadas nos relatórios do Diretor Buff, que encerrou seu mandato em 1859.
Em 1859, teria sido criada a Picada Ferraz. Ela não consta do mapa de Buff de 1859, mas há relatos de ocupação de lotes a partir desta época.
Em 1859-1860, foi criada a Colônia de Monte Alverne (“Riotal), oficialmente uma colônia separada de Santa Cruz, mas administrativamente sempre a ela ligada.
É possível que algumas picadas ao Sul de Santa Cruz (entre elas, Linha João Alves, Cerro Alegre e São João da Serra) tenham sido criadas bem cedo. Elas não constam dos históricos da Colônia, mas seus habitantes já aparecem cedo nos registros das igrejas. Talvez fossem lotes comercializados por particulares e por isso ausentes dos relatos oficiais.
As demais picadas devem ter sido criadas após 1859-1860.
Bibliografia consultada
Para montar este breve histórico, além dos mapas mencionados, foram consultadas as seguintes obras:
- Hardy Elmiro Martin, Santa Cruz do Sul – de Colônia a Freguesia – 1849-1859, Santa Cruz do Sul, Associação Pós Ensino em Santa Cruz, 1979 (Este livro cobre o período inicial da colônia e é baseado em extenso levantamento feito pelo Prof. Hardy Martin em arquivos e bibliotecas)
- João Bittencourt de Menezes, Município de Santa Cruz, Santa Cruz do Sul, EDUNISC, 2005 (Trata-se de um relato de J. B. Menezes, que por 27 anos foi Secretário Geral da Intendência em Santa Cruz. A edição original é de 1914. A edição citada resultou de revisão por Arthur Rabuske)
- Ronaldo Wink, Santa Cruz do Sul – Urbanização e desenvolvimento, EDUNISC, 2002 (Este livro resultou de uma dissertação de mestrado do autor. É um excelente histórico do desenvolvimento da cidade de Santa Cruz. Contém cópias dos mapas da povoação que são mostrados no site)
- Celeste Dummer et al., Vera Cruz – Tempo, Terra e Gente, Vera Cruz, LupaGraf, 2009 (Este livro, comemorativo do cinquentenário da emancipação de Vera Cruz, relata a história da então Vila Teresa e colônias próximas, desde seu surgimento até 1959)
- Centenário da Colonização Alemã em Rio Pardinho, Santa Cruz do Sul, Gráfica Comercial Bins e Rech, 1952 (Contém não somente a história de Rio Pardinho, mas também as biografias de muitas famílias que lá residiram. O mapa de 1870 encontra-se nele encadernado. Está disponível na Web)
- Hardy Elmiro Martin (organizado e atualizado por Olgário Paulo Vogt e Ana Carla Wünsch), Recortes do Passado de Santa Cruz, EDUNISC, 1999 (O livro contém uma coletânea de artigos curtos do Prof. Hardy Martin cobrindo vários aspectos do desenvolvimento da cidade)
- Verband Deutscher Vereine (Herausgeber), Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Typographie do Centro, 1924 (Obra extensa, descrevendo a imigração Alemã em seu primeiro centenário – contém uma tabela com a cronologia das várias colônias)
- Jean Roche, A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Editora Globo, 1962 (outro extenso tratado sobre a colonização Alemã no RS)
Registros de lotes coloniais na Web
Ao redor de 1881, Carlos Trein Filho, o autor do mapa do mesmo ano, levantou os proprietários dos lotes coloniais. O resultado deste levantamento, na forma de fichas, uma por lote, está disponível no Familysearch.
Abaixo vão os links para os cadastrados de cada picada. Para cada uma é informado o códice (livro) correspondente no AHRS – Arquivo Histórico do RS:
- Sede da colônia – Códice C-393
- Andréa (Andreas) – Códice SA164
- Antão (hoje em Venâncio Aires) – Códice SA135
- Bom Jesus – Códice SA169
- da Serra – Códice SA166
- das Nove Colônias – Códice SA165
- de Dona Josefa – Códice SA163
- Entrada Rio Pardinho – Códice SA151
- Felippe Nery – Códice SA131
- Ferraz – Códice SA171
- Isabel (hoje em Venâncio Aires) – Códice SA136
- Santa Cruz (Alte Pikade) – Códice SA167 e Códice SA168
- São João – Códice SA154
- Saraiva – Códice SA137
- Villa Theresa – Códice SA170